AS MINHAS PINTURAS
Podendo incluir a minha forma de pintar num estilo, enquadrá-la-ia como pintura figurativa moderna, “comprometida” com os fenómenos sociais e políticos circundantes. A minha forma de expressão pictural situa-se ao nível de interpretação da maioria potencial de observadores dessa arte no nosso país para os quais a estética e a temática nela patente, apesar do seu carácter universal, a ela se dirige particularmente. As minhas pinturas, que de uma forma geral são figurativas, porém, apresentam-se menos preocupadas com o “foto-realismo” ou representação “correcta” dos elementos que a compõem. A aparência das minhas pintura é de algo inacabado como o mundo em que vivemos. Ela não é mais de que um convite ao observador de entrar na tela e de participar artística e intelectualmente no emaranhar da sua complexidade, na construção da sua temática e expressão, elementos com os quais se relaciona, por serem contextual à sua vivência. Os elementos formais, como os efeitos estéticos criados pela desenho, dos quais a arte figurativa é dependente, incluem linha, forma, cor, luz, massa, volume, textura, perspectiva embora esses elementos possam criar outros tipos de imaginário.
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A expressão pictural figurativa assim como as temáticas de inspiração que sustentam a nossa produção artística assumem uma trajectória humanística, de beleza, de angústia, de alegria que são valores universais em qualquer parte do mundo e era em que se vive.
Tive o privilégio de, através da pintura, denunciar o colonialismo português em Cabo Verde, expressar a cultura vibrante da resistência popular, cantar a beleza do meu povo, mesmo sufocado, e no fim, de poder celebrar o triunfo da Independência Nacional.
Para mim, pintura tem sido uma possibilidade de entrar no mundo de arte, de comunicar com o público através de um talento pessoal num nível de sensibilidade e de estética, de viver cercado de objectos de arte e de ter possibilidade de influenciar positivamente o pensamento de outros. Também é uma dádiva que possibilita interpretar fenómenos, estéticos, sociais, políticos, físicos, naturais e etc. de forma criativa e contribuir na construção de um ambiente social de maior sensibilidade artística e de valorização humanística.
Aos 15 anos fiz a minha primeira exposição no liceu da Praia. Foi um marco. Muitas pessoas passaram a conhecer-me e assim comos os meus trabalhos que foram elogiados e senti que tinha uma obrigação de dedicar-me e produzir mais, mas sobretudo de desenvolver aptidões artísitcas que se encontravam ainda no seu despertar.
A arte tem sido um elemento civilizacional incontornável para todos os povos do mundo e por isso indispensável. Juntamente com outros factores de progresso a arte transforma e humaniza o mundo.
A criação de uma pintura estimula a imaginação, ajuda a desenvolver novas técnicas de expressão, lança mais adrenalina no orgulho do pintor e faz brotar um objecto estimado com o qual irá existir uma cumplicidade importante com o seu autor, durante toda a vida.
Na minha infância pude conviver com trabalhos de arte que os meus irmãos mais velhos, Osvaldo e Renato Martins realizavam e na minha juventude tive a possibilidade de conhecer as obras de pintores caboverdianos como do Jaime Figueiredo, Érico Ramos e Pedro Gregório. Mais tarde seriam as obras de El Greco, Paul Cezane, Miro, Dali, Picasso, Fernando Botero entre outros que captaram a minha imaginação artística. Contudo, a força que me empurrou em definitivo para pintura veio de uma professora portuguesa de desenho de nome Isaura, que acreditou em nossos talentos, quando ainda era estudante no Liceu da Praia e tudo fez, inclusive oferecendo-nos materiais de pintura, para que triunfássemos.
O acontecimento nacional artístico que mais me marcou foi a minha primeira exposição depois da Independência Nacional, na cidade da Praia em 1977, por ter podido exibir todas as minhas pinturas que não eram bem-vindas no tempo colonial.
A pintura como outras modalidades artísticas na nossa sociedade carecem de uma apreciação condigna porque ainda não existe uma massa apreciável de citadinos instruídos nessa área. A maior parte da população citadina ainda não tem uma cultura urbana evoluída e vive à margem do que consideram de supérfluo. E isso é um termómetro civilizacional que não nos abona. O sistema de ensino não assume esse vazio e os actores dos meios de comunicação subestimam-na.
Por outro lado há uma tendência no seio de novos artistas em se escudarem por detrás de uma certa pintura dita abstracta, por assumirem que a mesma dispensa o necessário trabalho de estudo e prática que normalmente se processa através de anos para que conduza ao amadurecimento normal numa área com milhares de anos de desenvolvimento. Com isso não queremos desencorajar novas vias de aprendizagem, mas alertar que no mundo de hoje o talento e a excelência exigem muito estudo e empenho. Não é aconselhável violar regras que se desconhecem.
Os meios de comunicação no país, sobretudo a televisão, a rádio e os jornais não atribuem muita importância à pintura. Se algumas imagens são apresentadas quando se faz inauguração de uma exposição há um vácuo quanto à apreciação crítica do trabalho artístico. Como o sistema de ensino também funciona no mesmo diapasão, os artistas picturais são praticamente desconhecidos no país.
Os meios de difusão deviam periodicamente tratar com dignidade as expressões artísticas estruturantes, numa sociedade que se quer evoluída, e apresentar seus respectivos criadores, sobretudo aqueles com formação artística sólida, afim de influenciarem positivamente a sociedade e despertarem maior interesse para arte de pintura em Cabo Verde. O ensino devia adoptar o estudo de arte, quer através das disciplinas de história ou de uma específica nessa área.
Pedro Martins
2010
Nome das pinturas cujo ficheiro segue em anexo. Os direitos legítimos do autor terão que ser salvaguardados.
Raboita
Djato
Mudjer Prenha
Djokin di Dongo
Batucadera
Berdiana
Bendedera Doci
Campo Concentração
Dia di Indipendencia
Cafe
Mudjer
Procison
Mar di Kauberdi